
BZ – O Blog do Zanquetta apresenta uma entrevista exclusiva com nada mais nada menos que o Sr. Muricy Ramalho, ex-técnico e para muitos, eterno técnico do São Paulo .Boa tarde Muricy, tudo bem?
MR – Boa tarde. Tudo bem e é um prazer falar com vocês.
BZ – Prazer é o nosso. Aliás, só reiterando é um prazer falar com você. O Alexandre deve ter explicado que nós somos um blog de torcedores, nós não somos jornalistas e quem está falando é uma torcedora e fã. Então que fique ciente disso que eu não tenho a menor experiência com jornalismo e estou até um pouco nervosa para falar com você. Vamos bater um papo e tentarei controlar um pouco minha emoção.
MR – Tudo bem.
BZ – Muricy. Nós conseguimos uma foto sua recentemente, com uma camisa surrada e muito antiga do Tricolor muito criança ainda, e essa foto foi publicada em muitos portais da internet e ela tocou muitos torcedores, muita gente viu essa foto e se emocionou, mesmo aqueles que pediam a sua saída do Tricolor. Mesmo essas pessoas, elas se sensibilizaram. Quando você olha pra trás, lembra ai no caso dessa época da infância o que você sente? Como que é? Traça um paralelo do Muricy daquela época e o Muricy agora.
MR – Acho que é uma época gostosa porque marca uma época de criança, de adolescente e você realmente jogar futebol pra se divertir, jogar futebol porque você gostava onde os amigos jogavam, das pessoas que ajudavam o jogador de futebol, os diretores do lado social do São Paulo, que eram pessoas que não eram profissionais, eram pessoas que gostavam daqui, então era uma época ótima porque a gente tava cheio de ilusão como criança de um dia quem sabe ser jogador profissional, e claro, todo mundo sonha, nem todos sobem e depois de muitos anos chegou esse sonho, mas realmente eu me lembro dessa foto, eu vi e a gente fica emocionado mesmo por que é uma época que você legal por que a gente gostava muito mesmo, viu, do a gente fazia!
BZ – Agora partindo para uma outra pergunta de imprensa, um detalhe foi publicado recentemente a respeito de você, no caso, e do Telê, passado recentemente, dizendo que o Telê se sentia de certa forma meio traído por você. Nós, os torcedores, a grande maioria, não acreditou nessa história então se você puder, assim, esclarecer essa história pra gente o que realmente aconteceu?
MR - Primeiro que é uma novidade.Nunca ouvi falar disso e toda a história que eu tive no São Paulo com o “Sêo” Telê e ele também foi meu técnico e nunca ouvi falar isso, é uma novidade. Não sei de onde saiu isso e quem publicou isso. Realmente pra mim é uma novidade e ao mesmo tempo um absurdo, por que a gente antigamente tinha uma relação muito boa e o que acontece é que na época quando o Sêo Telê já tinha um projeto de parar de ser treinador e o São Paulo queria que ele preparasse um outro treinador pra assumir o lugar dele por que ele já tinha decidido que ia parar há algum tempo e ele ia preparar um outro treinador. E esse treinador, eu fui o escolhido por que primeiro ele me conhecia há muito tempo e tinha tanta confiança em mim e ai tava me preparando para no futuro assumir o lugar dele, mas ai infelizmente eu tive que assumir antes por que ele também ficou muito doente, mas este não era o projeto nosso, era dele ficar mais uns 3 anos trabalhando e eu ficar mais 3 anos ainda aprendendo com ele por que eu aprendi demais com ele, mas infelizmente ele ficou doente. Mas, essa pergunta sua, realmente, pra mim é uma surpresa por que nunca vi em nenhum lugar isso. É estranho.
BZ – Eu não vou saber te falar qual é a fonte, agora. Mas depois se você quiser a gente até informa...
MR – Não. Não quero até mesmo por que isso não existe. Faz tantos anos que to no mundo do futebol que nunca ouvi isso, então realmente isso é muito ridículo. Não dá nem pra comentar e só posso estar falando do que nós fizemos juntos que é muito legal.
BZ – Perfeito. O que vale é a sua verdade. As pessoas falam o que querem então o que está valendo aqui é a sua verdade.
Nas entrevistas você costuma demorar um pouquinho para, após as partidas, esfriar a cabeça. O que se passa na sua cabeça nesses momentos? Como que você extravasa antes de se ver na frente da imprensa, pra responder todas aquelas perguntas e, principalmente, aquele povo que gosta de ver o circo pegando fogo. Como que você se prepara pra isso?
MR – Realmente é isso. A gente demora um pouco mesmo por que quando acaba o jogo e gosto de ir pro meu lugar que eu fico que é o meu vestiário particular mesmo, e ai lá tem a minha televisão e já procuro me informar dos jogos da rodada, procuro me informar alguns lances do meu time e, claro, baixar um pouco a adrenalina, ir já pra casa tomar um bom banho e depois ir pra coletiva. Isso é um ritual e em todos os lugares que vou é assim. E a preparação é assim. Eu sou um cara muito espontâneo. Não me preparo muito pras perguntas não por que ela vem e vai ter a resposta sempre. Nunca me escondo, respondo do jeito que eu acho que tem que responder e as vezes a entrevista fica legal por que as pessoas gostam e não fica aquela coisa chata. Mas não me preparo tão assim não pras perguntas. Do jeito que elas vem eu respondo.
BZ – Ainda falando de entrevista você sempre frisa o fato de o futebol de hoje ser futebol de resultado, porque é isso que as pessoas querem: resultado. Se você pudesse treinar uma equipe com mais tranqüilidade, sem muita “cornetagem” seja de torcedor, dirigente, cartolas... enfim e curiosos...
MR – Ai teria que treinar na lua...(risos)!! Não tem um time assim como você ta querendo...
BZ – Nem tem como né?(risos)
MR - Esse time ai quando você assina contrato tem que ter acessório obrigatório(risos)!! Trabalhei o mundo todo. Trabalhei na China. Trabalhei no México... E no mundo todo é igual... não tem como, entendeu?
BZ – Mas se fosse um pouco menos do que é hoje, assim, você ia mudar seu estilo? Você ia continuar...?
MR – De jeito nenhum. Não tem como. Meu estilo é esse. Eu sou um cara que não trabalha pras pessoas, trabalho pro clube, trabalho pra história do clube. Eu sei que no futebol, realmente, existe um monte de interesse, mas pra mim o interesse maior quando assino contrato com um time é o clube e às vezes isso incomoda um pouco por que comigo não tem acordo mesmo e sempre o pensamento no time. Então... Todo esse tipo de coisa que você falou to acostumado já por que estou há mais de 30 anos no futebol. São coisas que acontecem não só no Brasil, acontecem em todos os lugares do mundo. O bom do futebol, é claro, é você ver um bom futebol, o time jogando bem, bonito se possível fazendo muitos gols, golear... Mas só existe uma coisa que segura, principalmente os profissionais, o técnico num time de futebol que é resultado. Então não existe um tipo de acordo pra você permanecer num clube, mesmo por que, por exemplo, o meu estilo não sou muito agradável mesmo, não sou muito social pras pessoas. Não sou muito de jantares, de almoços então eu só permaneço pela minha competência, pelos resultados dentro de campo, pelo resultado que o clube acaba vendendo muitos jogadores quando eu estou nos clubes. Então é por isso que permaneço nos times por muito tempo. E técnico se não fizer isso com certeza não dura nem uma semana. Agora tudo isso que você falou é normal. A gente tá acostumado com o negócio de pressão. Mas a pressão pra chegar em mim é um pouco difícil. Fica mais pelos corredores mesmo!
BZ - Agora mudando um pouco de assunto, falando um pouco dessa coisa de palestras motivacionais, pré-jogo, você sempre deixou claro que, pode até ser meio, “prejudicial”. Mais você não acha que uma palavra de confiança, de força, uma vibração, como a que você passa na beira do campo não pesa positivamente no emocional dos atletas?
MR – Isso aí a gente faz, isso aí todo técnico faz, agora, não pode confundir o exagero, de uma motivação maior, do que uma motivação, no que diz respeito a respeitar o ser humano, mesmo porque o técnico de futebol não é psicólogo. Você ta lidando com gente, e muita gente, pessoas que pensão diferente, pessoas que vem de diversas classes, então no futebol tem que ter cuidado com esse tipo de motivação porque, ele vai entrar na cabeça de uma pessoa e as vezes pode prejudicar, então, existe claro a palavra motivação, eu faço também, mais não com loucura, não com coisas que vai motivar demais o jogador aí ele vai entrar tão motivado que vai esquecer de jogar, vai ser expulso, eu já enfrentei vários treinadores que eu sabia que ia acontecer isso, porque os caras querem fazer uma super motivação, não são preparados pra isso, a verdade é essa porque, eu não sou preparado eu não sou psicólogo. Sou técnico. Então eu não tenho capacidade e nem quem não é um psicólogo tem a capacidade de orientar ou de motivar um ser humano. Então tem que tomar muito cuidado com isso já vi várias coisas no futebol que as pessoas motivam demais e aí prejudicam os jogadores, e prejudicam o time. Mais é claro que a gente tem a nossa palavra de motivação, você não pense que eu vou lá e só ponho os caras no quadro lá e não falo nada, não. A gente tem as nossas palavras, agora, tudo com muita calma com a dose certa sem exagero porque senão você pode atrapalhar ao invés de ajudar.
BZ – Falando daquele teu jargão “aqui é trabalho meu filho”, ele lhe personificou como um símbolo do tricolor, como um profissional dedicado, por sua conduta, por seu caráter. Além dessas características qual o sentimento que você enxerga como um fator determinante pra que a torcida tenha esse laço emocional tão forte, tão poderoso com você?
MR – Em todo lugar que eu vou é assim, por exemplo, ano passado nós fomos jogar lá no Recife o estádio todo ficou de pé gritando meu nome e eu saí lá do náutico a muito tempo, eu vou ao Rio Grande do Sul o internacional é a mesma coisa, por que é assim, o torcedor quer que você respeite a sua camisa, torcedor quer que por exemplo, quando eu recebi várias propostas pra sair do São Paulo por exemplo, de fora do país, de ganhar muito dinheiro e eu abri mão disso entendeu, como por exemplo aconteceu o ano passado, ou seja, eu recebi uma proposta fortíssima do time do catar, onde que a gente estava em um momento muito ruim do campeonato Brasileiro, muitos pontos atrás, então eu levei essa proposta pro presidente, não pedi aumento de nenhum centavo a mais, só queria saber se ele estava comigo naquele momento, mesmo sabendo da dificuldade que a gente podia ter pra ganhar o título, mais como eu não desisto nunca, não desisti mesmo, abri mão de ganhar muito dinheiro e ganhamos o tricampeonato inédito, que pra torcida é super importante porque eu sei, porque eu tenho família que torce pro são Paulo demais, meus filhos, então eu sei o que eles sentem pelo time, então é por isso que a torcida, principalmente a torcida que vai lá sofrer na arquibancada que vai todos os jogos, esses reconhecem que não é por que te oferecem um bom contrato que você larga o time, então, e aí também por fazer jogador, por exemplo nós fizemos quase 10 a 12 jogadores da Seleção Brasileira, vendemos muitos jogadores, então, tudo pelo trabalho do clube, então é por isso que o torcedor gosta do meu trabalho em todo lugar que eu vou eu faço isso por que eu visto a camisa mesmo, não tem esse negócio de ta trabalhando para as pessoas tem que trabalhar pro clube. Todo lugar que eu vou eu tenho essa identificação com a torcida e meu dia a dia então eu vou lá ao invés de ficar reclamando eu vou lá trabalhar pra ver se eu recupero alguém ou descubro alguém como fiz com o Hernanes, como fiz com o Jean não desisto nunca, então o torcedor, o torcedor mesmo que é aquele que paga e vai lá sofre pelo time esse com certeza reconhece.
BZ – Em uma de sua entrevistas você afirmou que as pessoas só sabem 10% do que acontece numa equipe de futebol, por alto você pode dizer um pouquinho do seu dia a dia como treinador?
MR – Em um time de futebol existem as nossas coisas lá dentro e você não pode por que você sai de um time, assim como acontece com família, empresas existem coisas boas e coisas ruins mais isso fica lá dentro não é por que você sai que você vai sair falando das pessoas, de jeito nenhum! Isso aí fica lá dentro, mais um clube de futebol realmente é muito mais complicado do que as pessoas pensam, por que são muitas pessoas que pensão diferente, você tem que fazer essas pessoas pensarem no mesmo objetivo, no futebol hoje a parte econômica prevalece demais, então existe muita vaidade entendeu, então você tem que dominar isso senão você não consegue vencer, você não tem um comando forte você não consegue vencer. As pessoas sabem muito pouco realmente do futebol e isso tem que ficar dentro do time mesmo não tem que ficar falando, isso é coisa de parceiro, a gente é parceiro, claro existem as vezes pessoas que discordam mais existe a parceria e a gente tem que ser mesmo que acabe a parceria como aconteceu agora você tem que ser correto, não pode ta falando coisas, ao contrário você tem que respeitar, não é por que você passou com essas pessoas que são companheiros que sempre me ajudaram.
BZ – Pegando o gancho no que você disse sobre a parceria que mesmo não mais estando clube que isso não pode perder, não sei se você soube disso, de uma declaração que o Grafite deu comparando você com o Paulo Autuori em que ele fala que o Autuori é muito melhor do que você e tudo mais, como que você se sente com esse tipo de declaração?
MR – Normal porque também posso achar que outro jogador é melhor do que ele, isso é uma questão de gosto. Sou há 4 anos o melhor do Brasil, entendeu? 4 anos! Agora isso é uma declaração de um simples jogador é uma coisa normal a gente não pode achar nada demais, entendeu isso é opinião tem que respeitar cada um tem seu gosto eu posso gostar de um jogador e não gostar do outro posso gostar de um treinador e não gostar de outro isso é uma opinião isso faz parte da democracia isso é uma coisa natural então o cara que deu sua opinião não pode dar? Isso é uma coisa natural.
BZ – A gente não precisa concordar. Ele deu sua opinião mas não prescimaos (risos)...
MR – Cada um tem sua opinião e é assim que funciona uma coisa bem simples. Não tem problema, não!
BZ – Fale para a gente qual que é o momento mais feliz e qual o mais triste ou os momentos mais felizes e mais tristes dentro de sua carreira como treinador?
MR – sempre dentro de uma carreira um título sempre é o momento mais feliz de um técnico por que é difícil você ganhar um título principalmente um título importante, um título Brasileiro, Comebol é muito difícil e quando se ganha realmente é uma alegria muito grande outra alegria é quando por exemplo é quando você trabalha um jogador e ele chega a seleção Brasileira, as vezes o jogador do nada chega a seleção Brasileira então é uma outra alegria que eu gosto muito quando eu vejo um jogador do nosso time ir pra seleção Brasileira e você colaborou com isso é uma coisa que realmente a gente não esquece, e tristeza a gente sente que nem torcedor quando perde um jogo, pra mim perder um jogo é muito difícil, não sei perder mesmo, não como, não durmo, eu sou que nem torcedor eu realmente passo mau pra mim a maior tristeza que eu tenho no futebol é perder um jogo não importa qual jogo, pode ser um amistoso, qualquer jogo sendo importante ou não, pra mim é a pior coisa da minha vida é isso aí entre tristeza e alegria é isso aí.
BZ – Pra finalizar, você acha que um dia volta pro São Paulo pra ser treinador ou dirigente sei lá em qualquer outra função a gente vai ouvir de perto “aqui é trabalho meu filho”?
MR – (risos) A vida, veja bem eu nunca me preparo para nada eu, claro, eu na primeira vez eu fui treinador do são Paulo e saí, aí sim, aí eu como não concordei muito com a minha saída, foi muito rápido, quando eu assumi o time como técnico não como funcionário que eu trabalhei muito tempo lá aí eu disse pra mim mesmo eu vou me preparar melhor vou dar uma volta aí no mundo e dei mesmo cheguei até a china, trabalhei bastante, depois de 10 anos voltei e ganhei, isso era uma coisa minha porque quando assim a gente ainda ta um pouco mais jovem claro, a gente fica um pouco mais chateado com as coisas, a gente sente um pouco mais, a gente espera muito das pessoas e as vezes não acontece então a gente fica muito aborrecido agora eu não sei agora eu saí fiquei 3 anos e meio não é fácil ficar 3 anos e meio em um clube, em qualquer lugar do mundo é difícil é muito raro e consegui ficar não to triste não e a gente não sabe por exemplo sai lá do sul também toda hora os caras dizem que eu vou voltar que eu voltei também, a gente não sabe o que vai acontecer mais com certeza as portas estão abertas e tudo pode acontecer, um profissional que sai de um time e sempre se dedicou e deu o seu melhor e tem ao seu lado, que é realmente a coisa mais importante que é a torcida, então as portas continuam abertas agora quando eu não sei se agora se é depois se é o ano que vem isso a gente não tem idéia não, eu sou treinador de futebol sou profissional do negócio de repente a gente ta aqui no Brasil de repente ta fora eu tenho muitos convites graças a Deus que eu vou analisando com calma mais, quem sabe um dia voltar ou pra ser técnico ou pra uma coisa mais suave assim como diretor ou supervisor da base ou do profissional, mais tranqüila mais quem sabe um dia a gente pode voltar Deus reserva as coisas na hora certa entendeu, eu fiquei 10 anos pra voltar e voltei só que agora eu não sei se são 10 anos mais quem sabe um dia.
MR – Obrigado. Bom eu agradeço e... é gozado como eu não estou falando com ninguém da imprensa, não sei o rapaz, conseguiu me telefonar e marcou essa entrevista, e legal, porque a entrevista foi muito boa. Você, apesar de não ter experiência realmente foi muito bem, e agradeço também isso que você está falando, que gosta do meu trabalho, que gosta da minha maneira de ser, realmente sempre procurei ser isso mesmo,não sou outro tipo de pessoa e é legal que você gostou do que nós conversamos e a entrevista foi muito boa! Muito bom mesmo você está de parabéns ! Se houvessem mais pessoas assim na imprensa seria melhor mais, legal, foi um prazer viu.
BZ – Ok, muito obrigado e sucesso pra você!
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